
Como manter a calma em crises: lições práticas da política
- Carlos Junior
- 22 de out.
- 8 min de leitura
Em tempos de polarização e disputas cada vez mais inflamadas, poucos desafios são tão comuns – e imprevisíveis – quanto a necessidade de se manter calmo em meio a crises políticas, institucionais ou eleitorais. Em nossa trajetória na Communicare, acompanhando assessores, candidatos, líderes de entidades e gestores públicos, testemunhamos como o controle emocional e as decisões bem estruturadas podem não apenas atravessar tempestades, mas também transformar ameaças em oportunidades.
Crise nunca avisa antes de bater à porta.
Mas, ainda que nunca estejamos completamente preparados para o próximo escândalo ou exposição indesejada, é possível aprender com erros, acertos e estratégias praticadas por figuras públicas em momentos de máxima pressão. Aqui, reunimos lições reais e recomendações valiosas para transformar o pânico em ação consciente, com foco especial no que a política pode nos ensinar sobre o poder de manter a calma onde todo o mundo parece perder o controle.
Por que a calma é tão decisiva?
Talvez a primeira pergunta a se fazer seja: por que precisamos manter a calma mesmo nas situações mais graves? Observamos que, quando uma crise explode, tudo parece correr mais rápido: demandas por respostas, pressão da imprensa, medo de prejuízos à reputação. O impulso natural é agir de imediato, para “controlar a narrativa”.
No entanto, a precipitação pode gerar decisões erradas que exigirão correções, tornando o dano ainda maior. A experiência mostra que são nas primeiras horas de uma crise que líderes perdem ou conquistam o respeito e a confiança do público. Errar nesse momento, muitas vezes, significa ampliar o problema.
Respire fundo antes de agir; sua imagem agradece.
Crises como oportunidades verdadeiras
Pode soar clichê, mas crises têm mesmo um potencial oculto de impulsionar carreiras, fortalecer organizações e renovar pactos de confiança. Quando toda a atenção da imprensa está voltada para uma figura ou instituição, operações corriqueiras se tornam manchetes, e cada ato ganha proporções de espetáculo.
Durante a tramitação da reforma da Previdência, presenciamos o caso de um deputado jovem, até então desconhecido, que entrou em evidência por ser alvo de fake news e críticas ferozes nas redes sociais. Ao invés de reagir impulsivamente, ele optou por responder de forma transparente e estratégica, priorizando canais digitais e se comunicando primeiro com seus aliados e equipe interna. Pouco tempo depois, passou a ser visto pelo eleitorado como símbolo de serenidade e competência. A crise não apenas não o derrubou, mas lançou seu nome nacionalmente.
O tempo como inimigo (e aliado) na gestão de crises
Talvez um dos aspectos mais subestimados em momentos de crise seja a percepção do tempo. Viver uma crise faz com que minutos pareçam horas. Contudo, para o público geral, especialmente em tempos de hiperconectividade, esse mesmo episódio pode ser esquecido em questão de dias, desde que tratado de maneira adequada.
Nas situações críticas, o tempo é quase sempre o maior inimigo. A demora na resposta, seja no esclarecimento de um boato ou no enfrentamento de fake news, pode cristalizar versões distorcidas dos fatos e transformar meras especulações em verdades aceitas.
Respostas rápidas, mas cautelosas: A gestão deve priorizar informações verificadas, mesmo que sejam preliminares. Evite silêncios prolongados.
Preparação constante: Ter textos-base, listas de perguntas frequentes e protocolos de crise prontos para adaptar à situação.
Uso estratégico dos canais digitais: Para situações digitais, prefira sempre respostas digitais, e deixe a mídia tradicional para manifestações oficiais ponderadas.
Às vezes, reagir rápido é melhor do que buscar a resposta perfeita.
O exemplo marcante do ex-presidente Bush
Um caso clássico: o ex-presidente americano George W. Bush, ao ser informado sobre o ataque ao World Trade Center enquanto visitava uma escola, demorou aproximadamente sete minutos para se manifestar. Anos depois, avaliações de imagem ainda discutem se era possível ter reagido mais cedo ou se o tempo ali permitiu um raciocínio estratégico. O episódio mostra que ser rápido não significa ser impulsivo. É preciso encontrar o volume certo entre velocidade e responsabilidade.
Parâmetros e métricas: preparação antes que a crise estoure
Não existe improviso de qualidade em situações críticas. Por isso, sempre recomendamos o desenvolvimento de parâmetros e métricas previamente estabelecidos para orientar decisões e permitir diagnósticos rápidos. Métricas claras ajudam a medir impacto, definir prioridades e escolher a melhor abordagem.
Lista de stakeholders afetados
Pontuação de gravidade (da exposição e do dano em potencial)
Níveis de engajamento em canais digitais e tradicionais
Mapeamento de influenciadores e possíveis “explosores” do tema
Sentimento digital (positivo, negativo ou neutro)
Estruturar um plano de comunicação política eficaz, inclusive com parâmetros de avaliação, ajuda a transformar decisões subjetivas em respostas assertivas. Caso queira aprofundar esse processo, sugerimos a leitura sobre como desenvolver um plano de comunicação política eficaz e também as estratégias eficazes para gerenciar crises de imagem.
Lidando com fake news: da origem ao combate certo
Se existe uma ameaça presente em 100% das crises atuais, ela atende pelo nome de fake news. Jamais subestime o poder de uma notícia falsa. Segundo pesquisas do Instituto DataSenado, 81% dos brasileiros acreditam que fake news impactam resultados eleitorais, informação reforçada pelo fato de que 72% dos brasileiros afirmaram ter contato com notícias falsas nas redes sociais nos últimos seis meses (Pesquisa do Instituto DataSenado).
Além do alcance, as fake news têm impacto direto no comportamento do eleitorado, influenciando decisões e criandodescrédito sobre informações verídicas, inclusive temas científicos (artigo discute como as fake news mudam comportamentos). Em situações de crise, muitas fake news vêm de aliados próximos e circulam primeiramente em grupos fechados, sendo essencial manter uma comunicação interna vigorosa, atualizando e esclarecendo os principais pontos com todos os envolvidos.
Escolhendo os canais certos
No calor do momento, há uma tendência de procurar grandes veículos tradicionais para responder a boatos graves. Mas, segundo dados recentes, com o crescimento projetado para 5,85 bilhões de usuários em redes sociais até 2027, o melhor caminho quase sempre é combater fake news onde elas nascem e se espalham: nos canais digitais (número de usuários em redes sociais).
Aborde boatos nos canais onde o público-alvo já está presente
Não dê tração extra a boatos irrelevantes em grandes portais
Priorize respostas diretas e autênticas para os públicos leais
Experiências recentes e uma revisão sistemática dos impactos das fake news mostram o quanto a propagação acelerada pode desencadear crises sucessivas e paralelas (o fenômeno das fake news interfere em campanhas).
Comunicação interna e o ciclo de influência
Em muitos episódios, esquecemos que parte significativa do calor da crise começa com o pânico interno. É por isso que toda orientação moderna defende que primeiro se avise (com clareza) o público interno: equipe, assessores, conselhos e associados. Após o entendimento do grupo leal, parte-se para a opinião pública, depois para os críticos e adversários.
Um bom exemplo foi a atuação do ex-presidente Jair Bolsonaro em momentos de grande pressão. Ele frequentemente priorizava comunicar sua base de apoiadores antes de responder a adversários ou à imprensa ampliada. Essa estratégia permitiu resguardar um núcleo sólido de apoio, mesmo nas maiores tempestades midiáticas.
Nosso trabalho recente evidencia o quanto um ciclo de influência bem estruturado em comunicação pública pode preservar reputações (entenda como funciona o ciclo de influência).
Antecipando paralelos e desdobramentos: a crise nunca é isolada
Outra armadilha comum é subestimar a criatividade da imprensa em traçar paralelos entre episódios aparentemente desconectados. Muitas vezes, a verdadeira crise não está no erro, mas na comparação com erros de terceiros, na repetição de padrões ou no uso do seu caso como exemplo em debates nacionais.
A mídia costura crises em série; antecipe os próximos capítulos.
Por exemplo, nas reformas recentes ou grandes escândalos, repercussão negativa inicial frequentemente se prolonga quando jornalistas ou opositores conseguem fazer paralelos entre figuras públicas e falhas passadas, mesmo que de outro contexto. No máximo em uma semana, a narrativa dominante já não é mais “quem errou”, mas “a quem se compara o erro”.
Mantenha um monitoramento amplo do debate público
Planeje respostas que levem em conta o histórico e o contexto do setor
Identifique rapidamente os possíveis “desdobramentos” no noticiário
Ter um planejamento flexível é fundamental para reagir não apenas ao fato, mas também ao seu potencial de se transformar, nos dias seguintes, em um debate mais amplo sobre governança, transparência ou integridade.
Trabalhando a percepção do tempo e da urgência
O sentimento de urgência em uma crise pode enganar. O que parece vital hoje é, frequentemente, apenas um item entre muitos na pauta do público geral. Desenvolver a capacidade de relativizar a pressa é algo que aprimoramos observando lideranças que atravessaram escândalos sem explodir desnecessariamente.
No caso citado da reforma da Previdência, por exemplo, o deputado jovem soube “segurar a onda” durante os ataques mais pesados. Após 24 horas, boa parte dos boatos havia perdido força, pois a equipe se concentrou em informar primeiro aliados e fontes confiáveis, permitindo que o desgaste não escapasse de controle. A percepção de urgência foi gerida com base em métricas reais, não só no barulho das redes.
Crises interligadas: da fake news ao descrédito de instituições
Não podemos esquecer que, mesmo passado o momento inicial, os efeitos da crise podem voltar em ondas. Pesquisa financiada pela CAPES traz dados alarmantes a respeito das consequências práticas das fake news, que durante a pandemia, por exemplo, aumentaram a desconfiança sobre decisões técnicas e impactaram a aceitação da ciência, gerando efeitos trágicos no Brasil.
O mesmo padrão se repete na política: episódios recentes mostram que boatos aparentemente inofensivos acabam gerando descrédito continuado sobre instituições inteiras. Por isso, cada crise deve ser vista como parte de um ciclo mais amplo, e não como um evento isolado.
Checklist prático para atravessar crises com serenidade
Mantenha um canal aberto com os aliados internos
Prepare respostas rápidas, factuais e transparentes
Priorize o combate a boatos onde eles nascem: canais digitais
Evite alimentar ciclos sensacionalistas com declarações precipitadas à mídia tradicional
Antecipe possíveis paralelos e desdobramentos da situação
Defina métricas claras para medir impacto e evolução dos riscos
Cuide da saúde emocional da equipe, mantendo reuniões de atualização e acolhimento
Ferramentas e soluções de comunicação para crises
Ao longo dos anos, aperfeiçoamos métodos e modelos que ajudam organizações e lideranças a atravessar crises sem perder a cabeça. Algumas ferramentas são particularmente úteis:
Mapeamento de stakeholders para priorizar fluxos de comunicação
Monitoramento digital 24h para identificar tendências emergentes
Protocolos internos para atualização dos colaboradores
Reuniões breves e regulares para ajustes na estratégia
Métricas em tempo real via dashboards de menções e sentimentos
Podemos compartilhar mais estratégias e exemplos práticos em conteúdos como marketing político e engajamento e o papel da comunicação institucional na política. Essas referências mostram como integrar o planejamento para não agir sob efeito do susto, mas com inteligência e propósito.
Conclusão: serenidade, estratégia e posicionamento
Manter a calma é, acima de tudo, um exercício de autocontrole e estratégia. Não significa passividade, mas agir com base em dados, métricas e objetivos claros. Aprendemos com a política que, diante dos piores cenários, é possível sair fortalecido, desde que os próximos passos sejam dados com a cabeça fria e o ego sob controle.
Cada crise é, sim, uma oportunidade de revisitar valores, testar processos e mostrar força na adversidade. Na Communicare, estamos prontos para construir ao seu lado planos sólidos para a comunicação de crises, o fortalecimento da imagem institucional e a preparação de lideranças para o inesperado. Se deseja saber mais, conhecer nossos métodos ou receber um diagnóstico personalizado para sua entidade ou campanha, fale conosco e agende uma conversa através do nosso formulário.
Perguntas frequentes sobre como manter a calma em crises
Como manter a calma em momentos de crise?
Em momentos de crise, o primeiro passo é buscar informação precisa e respirar profundamente antes de agir. Estabeleça prioridades, comunique-se com sua equipe próxima, evite decisões impulsivas e trabalhe com métricas claras para avaliar a situação. A calma vem de saber que há um plano a seguir, e isso só acontece com preparação e informação.
Quais técnicas políticas ajudam a manter a calma?
Técnicas comuns na política incluem simulações prévias de situações críticas, respostas programadas para cenários recorrentes e reuniões contínuas para alinhamento interno. Delegar funções claras e criar fluxos de comunicação rápida também reduz o estresse e previne erros.
O que fazer diante de pressão intensa?
Quando sob pressão intensa, procure se ancorar nas informações já confirmadas, busque apoio em sua rede de confiança, e delimite qual é a sua área de controle imediato. A autogestão emocional e reuniões curtas para ouvir a equipe ajudam a enfrentar o ambiente hostil com menos ansiedade.
Existem exercícios simples para controlar o estresse?
Sim. Exercícios de respiração são práticos e ajudam imediatamente: inspire pelo nariz contando até quatro, segure o ar por quatro segundos, expire lentamente também contando até quatro. Repetir esse ciclo diminui a ativação do sistema nervoso. Pequenas pausas para hidratação, caminhadas rápidas e escrever preocupações em papel também podem aliviar a tensão.
Como líderes políticos tomam decisões em crises?
Líderes políticos costumam se basear em dados, recomendações de especialistas e no mapeamento dos possíveis impactos de cada decisão. Reúnem equipes multidisciplinares, analisam cenários, consultam aliados leais e só então anunciam medidas. A cautela é fundamental, mas sem perder a agilidade na resposta.




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