
Como a linguagem neutra pode afetar as campanhas eleitorais
- João Pedro G. Reis

- 13 de nov.
- 10 min de leitura
Eu sou João Pedro G. Reis, Diretor Executivo da Communicare. Decidi escrever sobre como a linguagem neutra está impactando as campanhas eleitorais brasileiras por perceber que esse tema se tornou um verdadeiro divisor de águas na comunicação política. Seja você candidato, assessor, liderança sindical ou gestor público, tenho certeza de que entender essas nuances vai ajudar nas tomadas de decisão e no posicionamento em 2026, 2028 e além. Compartilho aqui análises, dados e minha experiência à frente de campanhas e consultorias em todo o Brasil.
Afinal, o que é linguagem neutra e por que causa polêmica?
Linguagem neutra, ou linguagem não-binária, é um conjunto de estratégias linguísticas que busca incluir pessoas que não se identificam com o gênero masculino ou feminino. Em português, envolve o uso de termos como “elu/delu”, sufixos como “x” ou “e” (“todes”, “amigxs”) e evita explicitar gênero em frases e palavras. O objetivo? Tornar a comunicação mais inclusiva e menos excludente para pessoas trans, não-binárias ou que não se reconhecem na divisão tradicional de gênero.
Porém, como pude observar dialogando com diferentes públicos e bancadas políticas, essa temática rapidamente tomou contornos ideológicos e passou a ser pauta de campanhas, debates legislativos, programas eleitorais e materiais institucionais.
A forma como nos comunicamos pode transformar ou afastar.
Ao longo deste artigo, busco mostrar por que as discussões sobre linguagem neutra não se restringem apenas a debates acadêmicos ou sociais, mas chegam diretamente às campanhas eleitorais e estratégias de engajamento digital, influenciando resultados, números e votos.
As bases conceituais e as estratégias do uso
Reunindo um pouco do que venho acompanhando em consultorias e nas principais pesquisas acadêmicas, notei que a adoção da linguagem neutra se baseia em três frentes:
Tornar a comunicação mais representativa e respeitosa para todas as identidades de gênero;
Desconstruir padrões linguísticos que perpetuam exclusão ou invisibilidade;
Reconhecer demandas de movimentos sociais por mudanças no cotidiano, inclusive em espaços públicos e oficiais.
Segundo o estudo publicado na revista Acta Scientiarum. Language and Culture, a aceitação dessas novas formas de linguagem depende fortemente dos condicionamentos sociais. No dia a dia da comunicação institucional, tenho testemunhado como cada escolha lexical carrega peso simbólico e político, especialmente no ambiente eleitoral.
Panorama das pesquisas de opinião do eleitorado brasileiro
Antes de sugerir qualquer estratégia na agência, sempre me apoio em dados sólidos. A bem da verdade, pesquisas de opinião sobre o tema apontam um cenário sensível para o uso de linguagem neutra em campanhas políticas.
De acordo com o levntamento do Instituto RealTime Big Data, realizado com eleitores da capital paulista, 97% dos entrevistados não utilizam linguagem neutra em suas conversas, e 92% discordam dessa abordagem até mesmo em situações simbólicas, como a interpretação do hino nacional. É um percentual altíssimo de rejeição, que dialoga com resultados nacionais.
Outra pesquisa da IRG Pesquisas, encomendada pela Associação Matria, revela que mais de 80% dos brasileiros são contrários ao uso do critério de autoidentificação de gênero em espaços públicos e esportivos. Esses números impactam diretamente a comunicação eleitoral, pois indicam que a maioria absoluta do eleitorado vê essa temática com reservas ou rejeição.
Como especialista em estratégias eleitorais, posso afirmar que esses dados não podem ser ignorados por equipes de mandatos, assessorias, sindicatos, conselhos de classe e associações que pretendem modular sua comunicação para 2026 e 2028. Eles sinalizam o risco de perda de conexão com o eleitor médio brasileiro.
Impacto da linguagem neutra na comunicação de campanhas eleitorais
Desde a intensificação das pautas sobre diversidade, percebo o aumento da busca por estratégias para comunicação política eficiente que equilibrem inclusão e clareza. A decisão de adotar (ou não) linguagem neutra repercute em diferentes frentes:
Imagem e reputação: O uso pode transmitir um discurso progressista e alinhado com causas sociais, mas também gerar rejeição entre públicos mais conservadores.
Construção de base: Impacta diretamente em estratégias de microtargeting, pois há grupos específicos para quem esse tema é central, tanto favoráveis quanto contrários.
Engajamento digital: Publicações que abordam linguagem neutra quase sempre geram alto volume de comentários, tanto de apoio quanto de crítica, mobilizando algoritmos, mas também fatores de crises reputacionais.
Segmentação territorial e demográfica: Segundo monitoramentos da Communicare, a aceitação é maior em grandes cidades, entre jovens e públicos universitários. Já em regiões do interior, evangélicas ou tradicionalistas, tende a haver rejeição maior e menor propensão ao debate construtivo.
Oficialidade: Como se trata de tema sensível, muitos órgãos legislativos, como aponta o Projeto de Lei 2957/22, estão criando regras para que campanhas e documentos públicos mantenham as normas da língua portuguesa oficial.
Isso tudo significa que cada escolha no discurso molda a narrativa da candidatura e os riscos associados. Tenho visto campanhas que alavancam a linguagem neutra intencionalmente para mobilizar nichos progressistas, mas também campanhas que viralizam exatamente em razão da crítica ao seu uso.
Exemplos reais e contextos hipotéticos em campanhas recentes
Participo de assessorias para candidatos(as) e entidades que foram pressionados por diferentes lados quanto ao uso da linguagem neutra. Cito, protegendo o sigilo de clientes:
Uma candidata jovem a vereadora, em capital do Sudeste, optou por usar “todes” e pronomes neutros em lives com coletivos LGBTQIA+. Houve crescimento do engajamento digital, mas nas urnas a adesão ficou restrita a bolhas específicas, com forte crescimento da rejeição em bairros mais tradicionais.
Uma federação sindical, ao lançar cartilha institucional em linguagem neutra para alcançar trabalhadores não-binários, gerou polêmica e precisou de gerenciamento de crise. O público-alvo percebeu a ação positivamente, mas houve retração de sindicatos menores e discussão ferrenha nas assembleias.
Em uma campanha para conselho profissional federal, a abordagem optou por linguagem inclusiva sem modificar a gramática tradicional, reforçando palavras como “todos e todas”, evitando “todes”. O resultado foi aceitação generalizada, com ganhos sobretudo entre mulheres e públicos progressistas, sem gerar tanta rejeição dos conservadores.
Cito esses exemplos por entender que o risco de polarização cresce quando a linguagem neutra é aplicada de modo amplo e sem considerar o perfil do eleitorado. Faço sempre questão de destacar isso em minhas mentorias, pois a comunicação política precisa ser plural e analisar contextos específicos para cada território eleitoral.
O papel do discurso inclusivo (e seus limites)
O que tenho notado na práctica é que existe uma diferença importante entre defender inclusão e adotar linguagem neutra integralmente em todas as peças. Estratégias como a descrita no artigo sobre discurso político inclusivo livre de vieses sugerem que o caminho mais efetivo, sobretudo para chapas majoritárias e candidaturas amplas, está em transmitir respeito e acolhimento sem necessariamente alterar profundamente a gramática oficial.
Inclusão não depende apenas de palavras, mas de postura autêntica.
É preciso buscar equilíbrio entre princípios e pragmatismo político. Campanhas bem-sucedidas têm combinado menções à diversidade, políticas públicas afirmativas e diálogos com coletivos sem tornar o debate sobre linguagem neutra o centro da comunicação, mas sim parte de um guarda-chuva maior de pautas de direitos humanos e cidadania.
Desafios legais e institucionais do uso da linguagem neutra
Além das reações do público, há também um cenário regulatório a considerar. Tramita no Congresso o Projeto de Lei 2957/22, que propõe restrições ao uso de linguagem neutra em campanhas e documentos públicos. O argumento principal é a defesa das regras do português oficial em todas as peças institucionais e governamentais.
Já atendi conselhos de classe e órgãos públicos que buscaram orientação específica da Communicare sobre como alinhar comunicação institucional com a legislação vigente. Tais consultorias têm foco em adaptar discursos, preparar notas técnicas e prevenir eventual judicialização por suposto descumprimento das regras oficiais.
Para campanhas eleitorais, é indispensável atenção ao cenário jurídico local, inclusive em editais, programas partidários e peças oficiais. Avalio que a maioria dos municípios e estados tende a adotar postura conservadora no curto prazo, evitando inovações linguísticas em documentos legais, enquanto iniciativas focadas em engajamento digital possuem espaços mais abertos.
O papel das redes sociais: viralização, cancelamento e nichos
Uma das variáveis que mais desafiam campanhas atualmente é o ambiente digital. O uso de linguagem neutra em posts, vídeos curtos, stories e comentários pode causar viralização positiva entre coletivos ativistas, mas também desencadear ondas de críticas, boicotes e cancelamentos. Redes como Twitter (X), Instagram e TikTok alavancam rapidamente temas polarizados, forçando as campanhas a se posicionarem de forma mais clara e, muitas vezes, reativa.
Nas consultorias oferecidas pela Communicare, oriento a mapear as redes de apoio e oposição a cada candidato(a), identificar influencers e preparar respostas rápidas em situações sensíveis. O importante é saber quando recolher, quando responder ou quando transformar a crítica em oportunidade de diálogo público.
Importante notar, segundo estudo da Acta Scientiarum. Language and Culture, que muitos jovens são favoráveis ao uso da linguagem neutra, percebendo-a como símbolo de avanço social e justiça. No entanto, lideranças sindicais e políticas devem pesar o impacto negativo junto ao eleitorado mais velho ou pouco acostumado com mudanças linguísticas.
Quando e como adotar a linguagem neutra: recomendações práticas
No dia a dia da consultoria, costumo trabalhar com o seguinte roteiro para orientar candidatos e gestores públicos em relação à linguagem neutra:
Pesquisa de base eleitoral: Antes de qualquer decisão, levante o perfil dominante dos eleitores no território de atuação. Jovens, universitários e coletivos urbanos tendem a ser mais abertos; regiões rurais e públicos religiosos, mais avessos.
Diagnóstico de causas e bandeiras: Que temas são estruturais para a candidatura? O uso de linguagem neutra dialoga com o discurso central? O quanto essa escolha afetaria o engajamento no digital e off-line?
Análise jurídica: Há leis municipais, estaduais ou federais sobre o tema? Consulte sempre o corpo jurídico da campanha antes de lançar peças oficiais inovadoras.
Segmentação da comunicação: É possível criar materiais específicos para coletivos (e-mail marketing, grupos fechados, eventos) usando linguagem neutra, sem generalizar seu uso para toda a campanha.
Monitoramento constante: Avalie métricas de engajamento, sentimento e repercussão a cada ação. Prepare-se para gerir eventuais crises e responder a críticas com dados e respeito.
Em resumo, não existe fórmula pronta. As decisões precisam ser customizadas e baseadas em pesquisas, como as de grandes institutos e dos próprios relatórios internos de redes sociais. Para conhecer práticas que associam pesquisa e segmentação com sucesso eleitoral, sugiro o artigo estratégias de campanha eleitoral: guia, exemplos e etapas.
Riscos e oportunidades no uso da linguagem neutra em diferentes contextos
Em minha experiência, a linguagem neutra pode ter papéis distintos a depender do cenário. Órgãos públicos e conselhos profissionais federais lidam com regras mais rígidas, enquanto movimentos associativos e campanhas de base podem aproveitar ferramentas inovadoras para se conectar aos seus públicos.
Para fortalecer essas estratégias, defendo sempre transparência e clareza nas justificativas. Quando uma campanha opta por linguagem neutra, explicar ao público as razões da escolha aumenta a compreensão e reduz ruídos. O silêncio, ao contrário, pode ser interpretado como alienação ou falta de preparo.
Em mandatos e campanhas progressistas, adotar linguagem neutra em momentos ou peças específicas ajuda a diferenciar, sem afastar a totalidade do eleitorado.
Focar em vocabulário inclusivo, evitando a hiperexposição da pauta, viabiliza diálogos mais amplos e menos polarizados.
Manter coerência entre discursos, práticas públicas e materiais de campanha previne acusações de oportunismo ou “marketing de diversidade” vazio.
O mais importante é que, seja qual for a opção de comunicação, ela reflita autenticidade e respeito aos grupos envolvidos. Candidatos e equipes despreparadas para conduzir esse debate tendem a perder espaço ou se prender a polêmicas infrutíferas.
Como as campanhas podem se preparar para o futuro
Os pleitos de 2026 e 2028 devem ser marcados por ainda mais debates sobre inclusão social, direitos das minorias e resistência a pautas progressistas. A presença da linguagem neutra no debate é um indicativo das mudanças sociais que estão em curso, mas também expõe as limitações de comunicação no âmbito eleitoral brasileiro.
Na Communicare, tenho trabalhado junto às equipes de campanhas para antecipar tendências, treinar porta-vozes, planejar cenários e estruturar respostas que não sejam apenas reativas, mas propositivas. A palavra de ordem é preparação, pesquisas, roteiros, monitoramento e diálogo constante com a sociedade.
A chave está em preparar o time para saber ouvir, ajustar rapidamente estratégias e adotar ferramentas que transmitam inclusão sem perder a clareza nem o vínculo com o eleitorado médio. O equilíbrio é sempre delicado, e por isso mesmo exige profissionais qualificados em comunicação política, consultorias especializadas e foco em resultados tangíveis.
Para quem busca aprofundar esse debate, recomendo ainda nosso conteúdo sobre marketing político e estratégias práticas para campanhas eleitorais e consultoria política: como atuar em campanhas e mandatos, disponíveis gratuitamente na plataforma da Communicare.
Conclusão
Ao analisar todas as experiências, dados e percepções de campo, vejo que a linguagem neutra tem, sim, potencial de transformar ou prejudicar o desempenho de uma campanha eleitoral. Tudo depende do perfil do eleitorado, dos valores estruturantes da candidatura e do posicionamento estratégico dos consultores de comunicação.
Não há uma escolha “correta” universalmente. Há contextos e riscos que precisam ser avaliados com seriedade, técnica e responsabilidade. O uso da linguagem neutra vai além de uma decisão gramatical ou política; trata-se de alinhar discurso, prática e valores para construir credibilidade e relevância.
Se você é candidato(a), gestor público, liderança sindical ou de conselhos de classe e quer aprofundar sua estratégia comunicacional para 2026, 2028 ou o próximo mandato, recomendo fortemente que procure apoio especializado. A Communicare, referência nacional em comunicação política, está à disposição para atender sua equipe e ajudar a construir narrativas vencedoras, sejam elas voltadas à inclusão, à tradição ou à inovação. Fale conosco pelo formulário disponível no site e inicie sua jornada de fortalecimento de reputação e resultados!
Perguntas frequentes sobre linguagem neutra em campanhas
O que é linguagem neutra?
Linguagem neutra é um conjunto de práticas de adaptação da língua portuguesa que busca evitar a marcação de gênero masculino e feminino, tornando o discurso mais aberto a todas as identidades de gênero existentes. Exemplos incluem o uso de termos como “todes”, “amigues” ou neopronomes como “elu/delu”, além de tentativas de modificar artigos e terminações de palavras de modo a não privilegiar nenhum gênero específico.
Como a linguagem neutra impacta campanhas eleitorais?
O impacto da linguagem neutra nas campanhas eleitorais pode ser decisivo para o sucesso ou fracasso em determinados públicos. Pesquisas mostram que a maioria dos eleitores brasileiros rejeita o uso dessa prática em peças oficiais, mas nichos progressistas podem enxergar positivamente, fidelizando apoios. Sua adoção pode, portanto, ampliar a identificação com públicos específicos, enquanto também gera possibilidade de rejeição junto ao eleitorado geral.
É vantajoso usar linguagem neutra em campanhas?
Depende do contexto. Em campanhas voltadas a jovens, coletivos LGBTQIA+ e regiões urbanas progressistas, pode render engajamento e diferença positiva. Porém, em cenários mais tradicionais, religiosos ou conservadores, o risco de rejeição é alto e pode impactar os resultados eleitorais negativamente. Sempre recomendo avaliação aprofundada do cenário antes de decidir.
Quais políticos já usaram linguagem neutra?
Diversos candidatos jovens, principalmente em grandes cidades e ligadas a movimentos sociais, já fizeram uso de linguagem neutra em campanhas, debates e peças digitais. Alguns exemplos vieram de vereadoras, deputados e lideranças sindicais nas principais capitais do Brasil. Porém, ainda não se trata de uma prática disseminada em campanhas majoritárias.
Linguagem neutra pode afastar eleitores?
Sim, a adoção da linguagem neutra pode afastar eleitores, principalmente os mais conservadores e menos familiarizados com o tema. Pesquisas apontam rejeição em mais de 90% dos entrevistados em algumas regiões, tornando necessário calibrar muito bem seu uso para não comprometer o desempenho eleitoral.




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