
Como criar códigos de conduta digital para campanhas eleitorais
- João Pedro G. Reis

- 17 de nov.
- 9 min de leitura
Nos últimos anos, vivenciei de perto a transformação digital das campanhas eleitorais brasileiras. Essa revolução trouxe ganhos, mas também desafios inéditos: a propagação acelerada de notícias falsas, o uso intenso de redes sociais, a presença de influenciadores e, mais recentemente, a popularização da inteligência artificial. Diante desse cenário, sempre defendi que campanhas sérias precisam investir não só em inovação, mas também em ética e responsabilidade. E é aí que entra o código de conduta digital, instrumento indispensável para quem deseja construir reputação sólida e evitar riscos durante o período eleitoral.
Produzo este artigo com base na minha experiência à frente da Communicare, agência reconhecida em marketing político e comunicação institucional. Meu objetivo não é apenas explicar o que é um código de conduta digital, mas mostrar, de forma prática, como elaborá-lo para campanhas eleitorais modernas, conectando teoria e realidade nacional. Também vou compartilhar aprendizados reais, exemplos e recomendações para que você possa aplicar esses conceitos no seu dia a dia.
Ética online não é diferencial, é necessidade para campanhas vencedoras.
Por que campanhas eleitorais precisam de códigos de conduta digital?
Antes de falar sobre elaboração, quero trazer um ponto fundamental: por que adotar códigos de conduta digital? Já percebi, em diversas consultorias que prestei, que muitas equipes subestimam o impacto das atitudes digitais de candidatos, assessores e apoiadores. No entanto, a reputação online se constrói (ou destrói) em poucos segundos e cada publicação pode gerar consequências legais, eleitorais e principalmente reputacionais.
O ambiente digital amplia o alcance e a velocidade das informações.
Dificilmente o que foi publicado pode ser completamente apagado da rede.
Crises digitais podem surgir de comentários impensados ou deslizes em grupos de apoio.
A legislação eleitoral, como a Resolução nº 23.732/2024 do TSE, vem se adaptando às demandas éticas e tecnológicas.
Após tantos projetos acompanhados, reafirmo: um código de conduta clara é o melhor seguro contra surpresas e crises digitais. Ele orienta o time, sinaliza compromisso ético para a sociedade e, principalmente, diferencia campanhas que respeitam a democracia das que buscam atalhos arriscados.
Fundamentos de um código de conduta digital para campanhas políticas
Costumo dizer, nos treinamentos que ministro, que não basta seguir lei: o código de conduta vai além da legislação. Ele reforça valores, limites e orientações éticas para as mais variadas situações. Em campanhas digitais, ele deve considerar aspectos como:
Respeito às leis eleitorais e às políticas das plataformas digitais.
Compromisso com a verdade e combate à desinformação.
Proteção de dados pessoais e privacidade de eleitores.
Conduta respeitosa em interações públicas e privadas.
Uso responsável de recursos automatizados, incluindo inteligência artificial.
Orientações para comportamento de apoiadores e influenciadores associados.
Procedimentos internos para lidar com violações e incidentes.
Na Communicare, sempre defendo que o código de conduta seja prático, acessível e aplicável a todos os atores envolvidos: equipe central, assessores, responsáveis por redes sociais e até militantes digitais.
Como iniciar a construção do seu código de conduta digital
Gosto de trabalhar com passos bem definidos, porque entendo que campanhas costumam ser ambientes agitados. Por isso, adotar um roteiro torna o processo mais fluido e garante que ninguém fique sem orientação.
Diagnóstico e mapeamento
O primeiro passo é identificar como sua equipe atua no ambiente digital. Isso significa revisar desde as postagens oficiais até grupos de WhatsApp, listas de transmissão e uso de redes como Instagram, que, segundo estudo da FGV sobre eleições municipais de 2024, concentrou 91,4% do engajamento entre candidatos, sendo os vídeos formato reels responsáveis por 88,2% das postagens mais interativas (estudo da FGV).
Com esse diagnóstico, detecto práticas arriscadas e identifico pontos de atenção para o futuro código. Uma dica valiosa: faça pequenas entrevistas com membros da equipe para levantar dúvidas e padrões comportamentais.
Definição dos princípios orientadores
A partir do diagnóstico, estabeleço os princípios centrais do código. Eles precisam refletir os valores do candidato e apresentar posicionamentos claros sobre temas sensíveis como fake news, discurso de ódio e limites da inteligência artificial. A proposta do InternetLab reforça a importância de diretrizes para influenciadores e o uso ético das novas tecnologias, o que deve ser incorporado ao documento.
Construção participativa
Sempre recomendo envolver a equipe na elaboração do código, pelo menos nas fases iniciais de sugestões e revisões. Quando todos participam, o resultado é mais compreensível e legítimo.
Promova um workshop de brainstorming sobre riscos e boas práticas digitais.
Recolha dúvidas por formulários anônimos para identificar situações delicadas.
Monte uma comissão interna para validar o texto antes da aprovação final.
Procedimentos escritos protegem a equipe e fortalecem a campanha.
Principais tópicos para incluir no código de conduta digital eleitoral
Ao longo dos anos, vi códigos muito longos virando "letra morta" e outros tão superficiais que eram ignorados. A experiência da Communicare aponta que o equilíbrio está na objetividade e clareza. Se fosse para sugerir uma estrutura padrão, incluiria:
1. Âmbito de aplicação
Deixe claro quem deve seguir o código: membros da equipe, estagiários, terceirizados, influenciadores contratados, voluntários em grupos e comitês digitais, entre outros.
2. Recomendações de comportamento
Não compartilhar, criar ou impulsionar conteúdo manipulado, deepfakes e informações falsas.
Evitar ataques pessoais, ofensas e discursos discriminatórios nos perfis da campanha e perfis pessoais.
Não utilizar bots ou softwares para impulsionar artificialmente postagens, curtidas ou seguidores.
Respeitar as regras das plataformas digitais e as normas eleitorais vigentes.
Redobrar a atenção com a privacidade de dados de apoiadores e eleitores.
Cito sempre a resolução do TSE de 2024 porque ela torna explícito: conteúdos fabricados, manipulados ou descontextualizados são terminantemente proibidos em campanhas eleitorais no ambiente digital. O código de conduta precisa seguir essa orientação.
3. Diretrizes para uso de inteligência artificial e automação
Esse é o tema do momento. O uso de IA pode agilizar tarefas, desde que respeite a transparência e os limites legais. No meu trabalho, oriento que:
Todos os conteúdos gerados por IA (como imagens, áudios, vídeos) sejam identificados para não confundir o eleitor.
Seja proibida a criação de fakes de voz ou imagem do adversário ou de terceiros.
Qualquer automação no disparo de mensagens seja transparente, inclusive no WhatsApp, respeitando as normas do TSE.
4. Conduta de influenciadores e apoiadores digitais
A influência das redes sociais vai muito além dos posts oficiais. Muitas campanhas se apoiam em influenciadores e microinfluenciadores, seja de maneira formal ou espontânea. E, segundo a proposta do InternetLab, é fundamental haver regras claras para evitar desequilíbrios e abusos.
Sugiro incluir tópicos como:
Obrigação de identificar conteúdo patrocinado ou colaborativo.
Proibição de disseminar ataques, fake news ou discursos ilegais.
Canal direto para esclarecimento de dúvidas e reporte de violações.
5. Segurança da informação e prevenção de incidentes
Não existe comunicação digital sem riscos. Já acompanhei situações em que senhas eram compartilhadas sem critério, levando a invasões e vazamentos prejudiciais à campanha. Por isso:
Nenhum acesso é compartilhado sem autorização da coordenação de campanha.
Todas as contas possuem autenticação em dois fatores.
Treinamentos regulares sobre reconhecimento de tentativas de phishing são obrigatórios.
Qualquer incidente deve ser comunicado imediatamente, seguindo um roteiro simples de resposta.
Segurança digital deve ser rotina, não exceção.
Para aprofundar práticas de proteção digital em campanhas, recomendo consultar este checklist de segurança digital para campanhas eleitorais publicado pela Communicare.
Orientações sobre implementação e treinamento da equipe
Às vezes, vejo campanhas elaborando códigos excelentes que, no entanto, nunca saem do papel. O pulo do gato está na implementação. Gosto de seguir estas diretrizes:
Distribuição acessível do código, inclusive em versão digital, para toda a equipe e apoiadores.
Realização de treinamentos explicativos antes do início da campanha, com exemplos práticos e dinâmicas de situações reais.
Rotina de reciclagens periódicas, pois os desafios digitais mudam ao longo do processo eleitoral.
Definição de um canal para dúvidas e denúncias, preservando o sigilo de quem comunica violações.
Se possível, insira mensagens resumidas do código em briefings, grupos de WhatsApp e até peças internas. O objetivo é manter as regras sempre lembradas e facilitar a consulta quando surgir dúvida.
Monitoramento, revisão e atualização: o ciclo contínuo
Em campanhas, mutações são constantes. O que vale hoje pode não servir amanhã, especialmente quando falamos de plataformas digitais. Por isso, incorporei à cultura dos projetos da Communicare o ciclo contínuo de revisão:
Monitoramento do ambiente digital por ferramentas e acompanhamento do time de social media.
Registro simples de incidentes ou infrações e encaminhamento imediato para análise da coordenação.
Planejamento de revisões periódicas do código, especialmente após mudanças relevantes na legislação eleitoral ou nas regras das plataformas.
Feedback aberto para que qualquer um possa sugerir adaptações.
Na prática, já vi equipes identificando rapidamente situações arriscadas (como postagens sensíveis próximas ao pleito) graças ao hábito de se reunir semanalmente para revisar o código e compartilhar dúvidas. Convido quem deseja entender o passo a passo de campanhas bem estruturadas a navegar no nosso guia de estratégias de campanha eleitoral, referência no segmento.
Exemplos reais e situações comuns em campanhas brasileiras
Fui testemunha de diferentes problemas e soluções ao longo dos anos. Separei alguns exemplos (sem expor nomes, claro) e o que aprendi com eles:
Campanha que teve grupo de WhatsApp hackeado porque a senha era compartilhada com muitos apoiadores. A solução foi incluir, no código, restrição de acesso e treinamento de segurança digital.
Equipe digital que, sem má intenção, compartilhou uma montagem de adversário em tom de sátira. A situação resultou em crise. O código atualizado passou a proibir expressamente deepfakes e conteúdo manipulado.
Influenciador contratado postou vídeo criticando adversário com agressividade e xingamentos. Após isso, a campanha passou a exigir treinamento prévio e assinatura do código por todos os colaboradores externos.
O que posso afirmar é que a presença do código de conduta evita desgastes, protege o candidato e reforça credibilidade junto ao eleitor. Sua ausência, pelo contrário, amplia riscos e fragiliza qualquer ação de comunicação.
Para quem deseja entender melhor as regras e limites de publicidade em campanhas, sugiro também a leitura deste conteúdo da agência sobre publicidade eleitoral e estratégias digitais.
Como a legislação eleitoral brasileira impacta o código de conduta?
Ao longo das últimas eleições, vi as regras mudarem rapidamente para responder à evolução digital. A Resolução do TSE 23.732/2024 é um marco: ela detalha obrigações e limites para IA, conteúdos fabricados e automação de comunicação, alertando sobre sanções para campanhas que descumprirem esses pontos.
Além disso, iniciativas como a da InternetLab ajudam a amadurecer o debate, pressionando por maior responsabilidade no uso da tecnologia por parte das equipes eleitorais. Então, um código de conduta precisa dialogar diretamente com essa legislação, prevendo atualizações sempre que as normas mudarem.
E se sua equipe tem dúvidas sobre como garantir conformidade e segurança em campanhas online, recomendo o conteúdo que escrevi sobre como garantir conformidade e segurança em campanhas online.
Erros comuns e aprendizados na adoção do código de conduta digital
Ao assistir ao amadurecimento do setor de comunicação digital eleitoral, percebi erros que se repetem e podem ser evitados:
Acreditar que boas intenções substituem regras escritas.
Tratar o código como formalidade e não incorporá-lo ao cotidiano da equipe.
Ignorar treinamento de influenciadores ou colaboradores temporários.
Esquecer de revisar e atualizar o código após mudanças relevantes.
Não registrar incidentes e aprender com eles.
Na Communicare, busco transformar aprendizados desses erros em soluções. Nosso método é entender a especificidade de cada campanha, propor códigos personalizados e apoiar a implementação na prática. Resultados vêm com rotina e clareza.
Código de conduta bem aplicado é garantia de campanha ética e confiável.
Conclusão: Invista em conduta e construa sua autoridade digital
Tenho convicção, fruto da minha trajetória em campanhas pelo Brasil, que o futuro da comunicação eleitoral pertence a quem alia criatividade, tecnologia e responsabilidade. O código de conduta digital é o alicerce desse novo momento: protege a reputação, fortalece a democracia e diferencia bons candidatos no cenário competitivo das eleições.
Se você chegou até aqui, já compreendeu que o desafio transcende a mera adequação técnica—envolve conscientizar toda a equipe, criar regras claras e manter o compromisso com revisão constante.
Deseja adaptar seu projeto eleitoral às melhores práticas do mercado e garantir total segurança digital? Entre em contato com a equipe da Communicare pelo formulário disponível no site. Vamos juntos construir campanhas digitais éticas, inovadoras e alinhadas à legislação. Aproveite para conhecer nossos serviços em consultoria política e comunicação de campanhas e mandatos.
Perguntas frequentes sobre código de conduta digital em campanhas eleitorais
O que é um código de conduta digital?
Código de conduta digital é um conjunto de orientações, regras e princípios que define como membros de uma campanha devem agir em ambientes digitais. Ele cobre desde o que pode ou não ser publicado, até como lidar com crises e protegendo dados, focando na ética, legalidade e credibilidade da equipe diante dos eleitores.
Como criar um código de conduta digital?
Primeiro, mapeie o cenário digital do seu projeto, identificando os riscos principais. Depois, defina princípios claros, envolva a equipe nas discussões, construa regras objetivas para as ações digitais e, por fim, implemente o documento aliado a treinamentos e processos de revisão contínua. Recomendo que o código seja simples, objetivo e adaptável, como compartilhei ao longo deste artigo.
Por que campanhas precisam de conduta digital?
A reputação de um candidato hoje é formada e avaliada no ambiente online. Sem regras claras, pequenos deslizes individuais podem se tornar crises públicas e até processos judiciais eleitorais. O código garante credibilidade, mitiga riscos de fake news e deepfakes, e demonstra respeito às normas ao eleitor, à imprensa e à Justiça Eleitoral.
Quais são os principais itens a incluir?
Inclua: definição de quem está sujeito ao código, recomendações de comportamento em redes sociais, regras para uso de inteligência artificial, políticas para influenciadores digitais, orientações de segurança e privacidade, procedimentos para reporte de incidentes, revisão periódica e alinhamento com a legislação vigente.
Onde encontrar exemplos de códigos prontos?
É raro encontrar códigos de conduta digital específicos para campanhas eleitorais completas, pois cada projeto tem suas particularidades. No entanto, várias das recomendações práticas que exemplifiquei neste artigo podem ser adaptadas à sua realidade, com apoio consultivo da Communicare. Recomendo também que consulte conteúdos como o checklist de segurança digital para inspiração.




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