
Como inovar no marketing político: aprendizados da campanha do Caí
- Carlos Junior
- 16 de out.
- 9 min de leitura
Nos últimos vinte anos, temos trabalhado intensamente em campanhas de comunicação política, buscando sempre desafiar receitas prontas e padrões excessivamente repetidos. Acreditamos que nossa experiência acumulada, tanto em ambientes disputados quanto em contextos institucionais, reforça um propósito inquestionável: transformar a comunicação política em algo vivo, envolvente e realmente conectado com as pessoas. A fundação do blog da Communicare nasceu justamente desse inconformismo. Sentimos que a política, muitas vezes, se comunica de modo previsível, pouco ousado, robotizado até. No entanto, são nas brechas criativas, nos lampejos de originalidade e nos riscos assumidos com estratégia que as campanhas políticas mais impactantes se revelam.
O padrão previsível do marketing político tradicional
A cada ciclo eleitoral observamos repetições: jingles parecidos, discursos rígidos, slogans reciclando frases de décadas passadas. Vemos candidatos em cenários convencionais, studio claro, terno alinhado, teleprompter. Poucos se atrevem a romper o roteiro. Mas será mesmo esse o único caminho possível para conquistar a confiança dos eleitores e marcar uma posição diferenciada?
Na nossa avaliação, a resposta é “não”. E a campanha do delegado Caí à prefeitura de Paranavaí foi a prova concreta disso.
Caso prático: a campanha do prefeito delegado Caí e a coragem de inovar
Determinados contextos exigem mais coragem. A disputa em Paranavaí, em 2020, era um destes. Propusemos uma abordagem inédita: ao invés de utilizar os tradicionais programas de TV eleitoral, estruturamos uma série com episódios curtos, roteirizados, com estética cinematográfica. O resultado surpreendeu.
“Não era política, era cinema.”
Transmitidos como episódios de uma narrativa visual, os conteúdos misturavam luz baixa, fumaça, trilha dramática e closes no semblante do candidato. Os elementos visuais eram cuidadosamente estudados:
Luz recortada, destacando feições e incutindo atmosfera de suspense.
Fumaça suave ao fundo, criando profundidade de campo e sensação de mistério.
As tatuagens visíveis de Caí eram exibidas em planos detalhes, comunicando autenticidade e quebra simbológica com a imagem do político tradicional.
Esta estética criou um campo de diferenciação imediato. Muitos eleitores, ao se depararem com os episódios, estranharam no início. Não parecia um programa eleitoral tradicional. Mas depois, passaram a esperar os próximos episódios. Criou-se expectativa e conversa espontânea.
Cada recurso visual era justificável: a autenticidade das tatuagens mostrava alguém com vivências reais, a iluminação escura rompia com o “falso otimismo” de campanhas excessivamente coloridas, sugerindo maturidade e disposição para encarar dificuldades. A fumaça insinuava incertezas da política local, enquanto a linguagem visual aproximava das séries e filmes populares, tornando a comunicação mais familiar para o público.
A ruptura com a imagem tradicional do político
O maior desafio não estava em inovar tecnicamente, mas sim em convencer que arriscar era válido. O visual do Caí, com tatuagens expostas, camisa sóbria e olhar sério, desmontava estereótipos sobre o ‘bom político’. Em vez de esconder o que era considerado “fora do padrão”, transformamos em símbolo de verdade e coragem. Essa ruptura, pensada e planejada, foi fundamental para gerar conversas naturais e novos engajamentos digitais.
Muitos candidatos optam por esconder características que os diferenciam. Nós escolhemos exibi-las, de propósito. Afinal, campanhas inovadoras se apoiam na transparência, não na ocultação.
Criando conteúdo jovem, comédia inteligente e identificação
Fomos mais longe: para atingir o público jovem, desenhamos pílulas de vídeo com linguagem descontraída e pitadas de comédia. Os roteiros fugiam do “politiquês” e incorporavam situações do cotidiano, desde andar de bicicleta pelos bairros, até responder vídeos em formatos típicos de redes sociais.
Um exemplo ficou marcado. Em uma das produções, Caí aparecia, no intervalo da tradicional fala de propostas, brincando sobre memes que circulavam a seu respeito. E, ao responder com humor, humanizava sua imagem e rompía com a rigidez habitual.
Adicionamos ainda:
Referências a jogos populares, com trilhas sonoras conhecidas pelos jovens;
Utilização de gírias moderadas, respeitando sempre a sobriedade do cargo;
Diálogos simulando mensagens de WhatsApp, criando sensação de proximidade.
Segundo artigo na Revista Internacional de Apoio à Inclusão, Logopedia, Sociedade e Multiculturalidade, inserir estratégias criativas e inovadoras na propaganda eleitoral brasileira tem sido fundamental para engajar jovens, aproximar o eleitor de forma orgânica e criar diferenciais frente ao mar de conteúdos repetitivos.
Narrativas inovadoras e emocionalmente conectadas
Não há fórmula mágica, mas um caminho se repete: campanhas inovadoras criam o inesperado e conquistam pelo vínculo emocional. Quando o eleitor se vê representado, ou surpreendido pela autenticidade —, há mais chances de engajamento ativo.
Estudos publicados na Revista de Administração Pública demonstraram que ambientes políticos inovadores geralmente possuem maior grau de democratização interna, transparência e competição. O resultado são campanhas com mais espaço para criatividade e menos medo de ousar.
Nem sempre dá para abrir mão de certos formatos, é verdade, sobretudo em cidades pequenas ou para cargos mais tradicionais. Mas sempre há uma alternativa menos engessada, se estivermos atentos ao contexto sociopolítico, ao perfil do eleitorado e ao nível de maturidade da equipe.
Passos para inovar: do planejamento ao conteúdo
A criatividade planejada não nasce do acaso. Aprendemos que o sucesso vem de um processo estruturado, ainda que aberto ao novo. Veja abaixo, por onde começar:
Diagnóstico do contexto: identificar forças, fraquezas e oportunidades para inovação. Entender o que realmente diferencia o candidato e a cultura política local.
Definição de propósito e tom: toda campanha ousada precisa de um norte: o que queremos transmitir? Qual emoção queremos provocar? Qual imagem queremos quebrar ou reforçar?
Testes de formatos: produzir pilotos rápidos, testar conteúdos diferenciados (séries, cortes, pílulas, entrevistas descontraídas) e avaliar a recepção interna antes de expor ao grande público.
Mensuração e ajuste contínuo: acompanhar reações, coletar dados de interação, adaptar roteiros e cenários. Flexibilidade é virtude central nas campanhas inovadoras.
Autenticidade acima de tudo: inovação real não é “forçar a barra”, mas construir comunicação verdadeira. O eleitor percebe quando há sinceridade ou quando há apenas tentativa artificial de se diferenciar.
Esses passos dialogam com as diretrizes presentes no planejamento de comunicação política eficaz, onde o estudo de público e a definição de propósito são etapas determinantes.
O papel das redes sociais como aceleradoras da inovação
Redes sociais são hoje o campo fértil para formatos inovadores, vídeos curtos, memes, trends, lives, podcasts. Porém, não basta estar nas mídias: é preciso entender as regras e dinâmicas próprias de cada uma para inovar de verdade
A experiência na campanha do Caí mostrou a força da circulação espontânea dos vídeos, o que é diferente de impulsionamento artificial. Muitas visualizações vieram das pessoas enviando episódios para grupos do WhatsApp, e até brincando com cenas em seus próprios perfis. Isso mostra o poder de um conteúdo orgânico bem construído, que pulsa fora do cronograma oficial.
Na nossa prática, sempre indicamos a adoção de estratégias digitais pensadas para causar impacto antes, durante e depois do período eleitoral, como discutimos em nosso artigo sobre estratégias digitais para impactar eleitores na pré-campanha.
Campanhas feitas para gerar conversa real: comédia, memes e linguagem jovem
Quando nos dedicamos a inovar para o público jovem, elencamos diferentes táticas:
Comédia planejada, evitando o ridículo e optando por ironia leve, tiradas rápidas e referências de cultura pop.
Memes de autocuidado, respondendo críticas com humor e transformando memes negativos em piadas inteligentes.
Linguagem popular, nunca “caricata”, mas com naturalidade e foco na identificação real.
Citação de jogos, músicas e expressões conhecidas pelo eleitor jovem.
Os efeitos? Números crescentes de compartilhamentos, comentários engraçados e uso espontâneo de hashtags ligadas à campanha.
Esse fenômeno é debatido também no estudo sobre inovação e democracia, que aponta para a crescente importância do engajamento participativo em ambientes digitais, sobretudo quando há componentes de humor e empatia.
Exemplos de formato: linguagem de jogo e storytelling episódico
Uma das inovações mais marcantes foi a inserção de “gamefication light” na comunicação, ou seja, uso de metáforas ligadas a jogos, como avanços de fase, definição de missões para a cidade e conquistas coletivas.
Episódios em estilo série: cada conteúdo tinha cliffhanger, gerando expectativa para o próximo.
Simulação de desafios: apresentávamos problemas reais da cidade em formato de “desafios do chefe”, como ocorre nos games.
Ranking de prioridades: quadros visuais como “placares”, sinalizavam quais demandas eram mais urgentes.
Tudo isso contribuiu para o que alguns já chamam de storytelling político baseado em séries: cada etapa da campanha era uma temporada, cada conquista, um episódio especial.
O compromisso político embutido nas campanhas inovadoras
Apesar do foco criativo, o objetivo nunca foi simplesmente entreter. Todo o esforço de inovação foi amarrado com compromisso claro:
Deixar evidente a disposição para quebrar velhos acordos políticos.
Comunicar autoestima local, mostrando orgulho de ser diferente.
Convidar a população a assumir parte ativa das mudanças propostas.
Esse compromisso não se limitou ao discurso. Em eventos presenciais, o próprio candidato reforçava a mensagem: “Fizemos diferente porque queremos resultados diferentes”.
No artigo da revista Novos Estudos (CEBRAP), destaca-se a relação direta entre inovação real e protagonismo comunitário. Só há inovação genuína quando o resultado é partilhado com as pessoas, não apenas imposto de cima para baixo.
Quebrando a “mesmice” e aprendendo a ouvir
Em toda a trajetória junto à equipe de Caí, aprendemos que mudar a comunicação exige, antes de tudo, disposição para ouvir as reações, inclusive críticas. A novidade, por vezes, assusta. Algumas pessoas estranham a estética, rejeitam o novo, ou tentam associar à falta de seriedade. Mas, quando há consistência ao longo da campanha, o novo vira marca registrada e se converte em força.
Há um dado interessante citado na pesquisa sobre inovação tecnológica no Brasil: iniciativas inovadoras, independente do campo, tendem a gerar crescimento e engajamento acima da média quando sustentadas por investimento, conhecimento prévio e monitoramento ativo. No marketing político, a lógica não é muito diferente.
A importância da mensuração e dos ajustes constantes
Avaliar resultados em campanhas inovadoras requer flexibilidade. Definimos, desde o início, métricas específicas:
Volume de compartilhamentos orgânicos nas redes sociais e WhatsApp;
Análise de comentários para captar temas de maior impacto;
Taxa de retenção dos vídeos e expectativa gerada para novos episódios;
Feedbacks presenciais, mensurados durante visitas de rua e eventos públicos;
Comparações com programas eleitorais clássicos (rejeição, aceitação e engajamento).
Na revisão final, identificamos que, onde inovamos mais, crescemos mais. E quebrou-se aquela falsa dicotomia entre “seriedade” e “criatividade”.
Inovação e responsabilidade social caminham juntas na comunicação política moderna, como defende também a análise comparativa Brasil-França sobre inovação em políticas públicas.
Aprendizados que levamos adiante
Nada substitui o estudo detalhado do contexto local, a escuta ativa do eleitorado e o domínio técnico das ferramentas digitais. Mas aprendemos que há margem, sempre, para construir campanhas mais vivas, conectadas e inovadoras.
Arrisque, mas planeje;
Não tenha receio do estranhamento inicial;
Valorize a originalidade verdadeira, nem forçada, nem caricata;
Considere o digital como centro, não apenas apoio;
Use o erro como ajuste, não como fim da linha;
Celebre, junto à equipe e ao candidato, cada sinal de identificação do público;
Para aprovar ideias fora do padrão, tenha argumentos claros, exemplos práticos e métricas para provar seu ponto. Dúvidas podem surgir, mas se o propósito for autêntico, o reconhecimento virá.
Se precisar de mais dicas para impulsionar sua atuação, indicamos nosso conteúdo sobre dicas para impulsionar campanhas eleitorais. Também produzimos um guia completo de marketing político para quem quer ir além da mesmice e construir autoridade digital.
Reflexão final: por que apostar na comunicação política inovadora?
A política mudou. Os eleitores mudaram. Novas gerações exigem diálogo transparente, formatos mais dinâmicos e autenticidade em cada mensagem. Campanhas inovadoras contribuem para um ambiente democrático mais vibrante, estimulam o debate público e consolidam lideranças alinhadas aos desafios do século XXI.
Em nossa experiência de duas décadas, pudemos perceber que as campanhas fora do padrão tradicional têm maior potência para romper resistências e gerar selo de confiança real. Não se trata de abandonar fundamentos estratégicos, mas de renovar a maneira de construir vínculos, gerar emoção e, acima de tudo, entregar verdade.
Se você busca inovação, diferencial e criatividade de verdade em campanhas políticas, eleitorais ou institucionais, converse com quem tem experiência reconhecida e resultados concretos. Aqui, na Communicare, transformamos ousadia em estratégia, criatividade em autoridade digital. Preencha nosso formulário, agende uma conversa e descubra como podemos ser parceiros na construção da sua campanha inovadora.
Perguntas frequentes sobre inovação no marketing político
O que é inovação no marketing político?
Inovação no marketing político é o uso de ideias, formatos e estratégias inéditas para comunicar propostas, valores e diferenciais de uma candidatura ou mandato, rompendo com padrões tradicionais e aproximando a política da realidade das pessoas. A inovação pode estar na mensagem, no formato, nos meios usados e até na postura do candidato. Ela se destaca quando gera identificação, engajamento e conversa espontânea.
Como aplicar inovação em campanhas políticas?
O primeiro passo é diagnosticar o contexto político e o perfil do candidato. Depois, planejar alternativas que se diferenciem, como séries de vídeos, narrativas visuais impactantes, linguagem jovem ou formatos inspirados em games e comédia saudável. Avaliar a recepção do público, ajustar e mensurar resultados é fundamental para que a inovação gere resultados reais sem perder o foco estratégico.
Quais estratégias inovadoras deram mais resultado?
Produção de conteúdos em formato de séries (episódios curtos), humor inteligente conectado à identidade do candidato, uso de elementos visuais disruptivos (tatuagens, iluminação cinematográfica), referência ao universo jovem (memes, jogos, WhatsApp) e participação ativa em redes sociais são algumas das estratégias que mais geraram engajamento e reconhecimento nas campanhas que desenvolvemos.
Vale a pena investir em marketing político digital?
Sim, campanhas digitais bem planejadas são capazes de alcançar públicos antes inacessíveis, gerar participação, engajamento orgânico e facilitar ajustes rápidos nas mensagens. Dados de estudos publicados na Revista Internacional de Apoio à Inclusão reforçam o papel decisivo do digital na democratização da comunicação política no Brasil.
Como medir o sucesso de uma campanha inovadora?
O sucesso pode ser medido por indicadores como volume de compartilhamento orgânico, comentários, engajamento espontâneo, expectativa por novos conteúdos, mudanças na percepção sobre o candidato e conversas naturais nas ruas ou grupos online. É importante definir métricas já no planejamento inicial, acompanhar resultados em tempo real e, principalmente, ajustar estratégias de acordo com o retorno do público.




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