
Como criar campanhas de educação política para o público jovem
- João Pedro G. Reis

- há 6 horas
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Sou João Pedro G. Reis, Diretor Executivo da Communicare e trabalho há anos com campanhas eleitorais e comunicação estratégica. Se cheguei até aqui, depois de tantas eleições, debates, experiências em mandatos e vivência com associações, sindicatos e entidades estudantis, é porque aprendi uma coisa: não existe transformação política real sem colocar a juventude no foco das ações.
Por isso, hoje quero compartilhar como penso e estruturo campanhas de educação política dirigidas a jovens. Não com fórmulas mágicas ou soluções perfeitas, mas com uma abordagem prática, honesta, permeada por dados, exemplos reais e dicas aplicáveis à realidade de quem atua na linha de frente da comunicação institucional e política no Brasil. Se quero que esse artigo gere valor ao projeto da Communicare, não posso deixar de falar do que dá certo (e do que dá errado) nesse universo, especialmente com as mudanças de comportamento e engajamento digital dos últimos anos.
Juventude conectada, mas desconfiada. Engajada, mas seletiva. Esse é o desafio.
Por que focar em jovens na educação política?
Começo dizendo o óbvio, mas que sempre precisa ser reforçado: o jovem é o principal acelerador de mudanças políticas. Mas há nuances nisso que poucos reconhecem. Estudos recentes do Agência Brasil revelam números que mexem com qualquer planejamento: 66% dos jovens apontam a democracia como melhor forma de governo, mas quase a metade acredita que pode funcionar sem partidos. Mais ainda, 58% preferem um líder forte, enquanto 29% veem com bons olhos um governo autoritário. Isso mostra que campanhas de educação política precisam mais do que transmitir conteúdos: devem provocar reflexão e diálogo.
Outro aspecto relevante: o Tribunal Superior Eleitoral divulgou que jovens até 24 anos representam apenas 1% dos filiados a partidos políticos no Brasil, aproximadamente 170 mil em um universo de quase 150 milhões de eleitores. Depois das eleições de 2022, houve queda de 14% nessas filiações. Ou seja: ainda há um longo caminho para geração de pertencimento político nos jovens.
Mas este cenário não é de total desânimo. A mesma fonte do TSE destaca que o comparecimento às urnas de jovens de 16 e 17 anos aumentou 52,3% entre 2018 e 2022, com 1,7 milhão de jovens efetivamente votando em 2022. A mobilização acontece, mas precisa ser trabalhada com muito mais conexão, linguagem e autenticidade.
Compreendendo o jovem brasileiro: perfis, motivações e desafios
O jovem não é um bloco homogêneo
Um erro comum, e que já cometi no passado, é tratar a juventude como se fosse um grupo uniforme. A pluralidade é regra. Variações regionais, sociais, culturais, de gênero, raça e acesso digital são imensas. Campanhas eficazes segmentam as mensagens e reconhecem que há “muitos tipos” de jovens.
Minha experiência mostra, por exemplo, que jovens de regiões metropolitanas respondem melhor a conteúdos digitais interativos, enquanto jovens do interior valorizam abordagens presenciais e referências locais. Perfis escolares, universitários, trabalhadores, engajados com questões ambientais ou identitárias... Cada qual tem demandas e interesses próprios.
Motivações e resistência
Quando reflito sobre as motivações, vejo que a grande maioria busca autonomia, reconhecimento e sentido nas suas ações. Campanhas que partem apenas do “dever cívico” soam antiquadas. O que engaja, na prática, é demonstrar que a participação política gera mudanças concretas ao redor, seja no bairro, escola, faculdade ou redes sociais.
Mas existe também a resistência, fruto do descrédito nas instituições e da polarização. O distanciamento dos partidos, já citado pelos dados do TSE, é acompanhado de um interesse crescente por mobilizações espontâneas e causas pontuais (como mostram dados do Instituto Pólis). 54% consideram a política importante, mas 45% acreditam mais em ações diretas do que na atuação institucional. Esse é um ponto de virada para a comunicação.
O que é educação política para jovens? Mais do que informar
Educação política, no sentido mais amplo e moderno, não se resume a explicar o funcionamento de poderes, regras eleitorais ou direitos e deveres. Trata-se de criar espaços de diálogo, escuta ativa e vivência da pluralidade democrática. O jovem precisa aprender e experimentar ao mesmo tempo.
É nisso que acredito: boas campanhas de educação política promovem senso crítico, empatia, respeito ao contraditório e capacidade de mobilização. Por isso, devem mesclar conteúdos informativos a vivências práticas (simulações, assembleias, votações fictícias, debates, oficinas...).
Exemplo prático
Quando coordenei uma campanha em uma universidade pública, notei que os fóruns presenciais só começaram a atrair jovens a partir do momento em que incluímos rodas de conversa, dinâmicas lúdicas e a produção colaborativa de memes para as redes sociais. O conteúdo era assimilado junto com a sensação de pertencimento e diversão.
Educação política é, antes de tudo, conectar gerações.
Como definir objetivos claros para campanhas voltadas ao público jovem
Costumo repetir nos projetos da Communicare que se você não sabe exatamente o que quer transformar, não vai conseguir medir resultado algum. O primeiro passo de qualquer campanha de educação política é definir metas muito precisas. Ajuda muito elencar objetivos principais e secundários, adaptando à realidade e à capacidade de execução.
Aumentar o comparecimento jovem em conselhos de classe, eleições e assembleias;
Estimular novas filiações e candidaturas jovens em sindicatos e associações;
Melhorar a compreensão sobre temas sensíveis (democracia, fake news, orçamento público, direitos humanos);
Promover o protagonismo jovem na produção de conteúdos políticos digitais;
Desenvolver competências como oratória, negociação, articulação digital e empatia.
É fundamental atrelar essas metas a indicadores palpáveis: número de jovens engajados, alcance das ações digitais, participação em votações simbólicas, produção de conteúdos próprios, etc.
Passo a passo para planejar campanhas de educação política para jovens
1. Diagnóstico realista: conheça seu público
Nunca começo uma campanha sem mapear previamente onde está o jovem que quero atingir. Isso significa diagnosticar hábitos de consumo de informação, interesses, canais preferenciais e redes de confiança.
Muitos gestores subestimam a importância desse levantamento inicial. Às vezes, investem tempo e recursos em redes sociais mortas para aquele nicho, ou produzem cartilhas que ninguém lê. Já vi conteúdos ótimos “passarem em branco” por pura ausência de escuta ativa e segmentação. Recomendo sempre que se busque:
Identificar onde os jovens do seu universo circulam (escolas, cursos técnicos, espaços culturais, comunidades, internet);
Mapear influenciadores regionais, coletivos estudantis, lideranças juvenis espontâneas;
Fazer escuta ativa por meio de pequenos grupos focais, enquetes online ou conversas presenciais.
2. Escolha dos canais adequados
Não existe canal único para falar com todos. Minha experiência mostra que os canais mais efetivos variam conforme o contexto. O que funciona bem em uma campanha estudantil pode não ter efeito em sindicatos juvenis ou movimentos de bairro.
Opções concretas incluem:
Redes sociais (Instagram, TikTok, YouTube, WhatsApp, Twitter/X);
Eventos presenciais e híbridos (rodas de conversa, oficinas, simulações de votação, assembleias, festas temáticas);
Podcast, vídeos curtos, transmissões ao vivo;
Memes, quizzes, challenges e minijogos políticos online;
Peças gráficas para divulgação em murais físicos (escolas, universidades, associações, ônibus urbanos);
Parcerias com influenciadores regionais e microinfluenciadores (tema que aprofundei em microinfluenciadores regionais).
Mas, mais do que o canal, o importante é tornar o jovem protagonista. Ele tem que se ver representado, produzir conteúdos, sugerir agendas e, se possível, ajudar a comunicar.
3. Escolha dos formatos de conteúdo: informação, emoção e participação
Uma campanha de educação política para jovens não pode apostar só no formato informativo tradicional. É preciso construir uma combinação de abordagens, alternando entre:
Conteúdos informativos em linguagem acessível e direta (explicações rápidas, cards, vídeos de até 1 minuto);
Depoimentos reais de jovens ou lideranças próximas ao público-alvo;
Sessões de perguntas e respostas ao vivo nas redes sociais;
Produtos culturais que viralizam, como músicas, paródias e memes políticos;
Dinâmicas de gamificação: quizzes, desafios, competições temáticas.
Uma vez, em um projeto para um conselho regional, criamos campanhas de perguntas e respostas usando stories do Instagram. O alcance foi duas vezes maior do que publicações informativas convencionais, e recebemos dúvidas inéditas, mostrando o quanto o engajamento cresce quando o formato conversa diretamente com a rotina do jovem.
4. Linguagem: evite jargão e fale de igual para igual
Em comunicação política, temos o vício da linguagem jurídica e dos termos técnicos. Já vi ótimas iniciativas naufragarem em função disso. O jovem rejeita comunicações rebuscadas, formais em excesso, didáticas demais ou paternalistas.
Se não for simples, não funciona com a juventude.
Por isso, defendo uma linguagem informal sem perder o respeito, leve, direta, permeada de exemplos do cotidiano, memes, gírias locais quando fizerem sentido (mas sem forçar), imagens do universo digital da própria audiência. E, principalmente, abrir espaço para o jovem questionar, propor, construir junto.
5. Construção colaborativa: campanha feita “com” e não “para” jovens
A chave de toda a minha abordagem está nesse ponto. Campanhas eficazes são cocriadas, e não apenas entregues prontas para consumo. Desde o brainstorming dos temas até as divulgações e análises de resultados, a juventude precisa participar ativamente. Isso aumenta o sentimento de pertencimento e multiplica o alcance espontâneo das ações.
Ferramentas como assembleias abertas, conselhos consultivos de jovens, grupos de planejamento em redes sociais, cotas para produção de conteúdo nas equipes de comunicação e premiações por engajamento são excelentes formas de viabilizar a cocriação.
6. Engajamento por identificação e causa
Se você me perguntar o segredo para viralizar campanhas com jovens, direi em poucas palavras: engajamento nasce da identificação com causas reais, ligadas à vida cotidiana. Greves por transporte, pautas ambientais, lutas estudantis, direitos LGBTQIA+, defesa da democracia... Campanhas que acertam ao conectar ações práticas do universo político com problemas reais são sempre mais compartilhadas.
Ao trabalhar temas espinhosos, recomendo promover rodas de escuta, debates mediados, espaços para a expressão de opiniões divergentes sem julgamento. Jovem gosta de transparência, mas rejeita imposição de posições e sinais de manipulação.
Exemplos de campanhas e boas práticas já aplicadas
Campanha “Vota Jovem 16/17”
Vi, nos últimos ciclos eleitorais, o impacto da campanha de alistamento e estímulo ao voto para jovens de 16 e 17 anos. Os números do TSE mostram um aumento expressivo do engajamento nesses grupos. O segredo foi a combinação de humor nos conteúdos digitais, paródias musicais, presença de influenciadores conhecidos e depoimentos de adolescentes sobre o que significa votar pela primeira vez.
O diferencial esteve também na mobilização de coletivos escolares e movimentação de hashtags, gerando “pressão positiva” e senso de pertencimento.
Oficinas de simulação parlamentar e debates abertos
Em projetos de educação política em conselhos regionais, vi que simular sessões parlamentares, permitir que jovens “ocuparsem” cadeiras e propusessem mudanças, trouxe resultados acima da média em interesse e adesão. A experiência direta supera qualquer conteúdo expositivo.
Campanhas digitais com microinfluenciadores regionais
Trabalhar diretamente com microinfluenciadores, que já gozam de confiança em suas bolhas, potencializa o resultado. Já detalhei isso em conteúdo sobre alcance regional. Eles traduzem a mensagem para o idioma de cada nicho e geram muito mais engajamento do que apenas repostos em perfis institucionais.
Erros comuns (e como evitá-los)
Copiar formatos institucionais e esperar adesão espontânea. O jovem percebe quando a comunicação só quer “cumprir tabela”.
Mensagens genéricas, pouco embasadas, sem falar das demandas reais daquele segmento juvenil.
Campanhas sem acompanhamento, ajustes ou feedback: deixam a juventude desmotivada e não geram dados para avaliações.
Excesso de foco apenas no online, abandonando a força de conexões presenciais, rodas e assembleias.
Falta de investimento em influenciadores de bairro/comunidade, que sabem dialogar dentro de suas próprias bolhas.
No conteúdo sobre campanhas educativas com baixo alcance explico porque insistir nos mesmos formatos pode comprometer os resultados.
Como medir resultados e ajustar estratégias
Outra armadilha clássica que já presenciei é planejar campanhas de educação política, mas esquecer de avaliar, corrigir e reportar indicativos de sucesso (ou de fracasso).
Indicadores quantitativos
Número de jovens atingidos, engajados e retidos ao longo da campanha (métricas de views, engajamento, comentários, produção própria de conteúdo);
Participação presencial em eventos, assembleias, oficinas, debates;
Taxa de novos filiados, candidatos, eleitores aptos, sugestões de pauta vindas do público-alvo.
Indicadores qualitativos
Qualidade do debate e do senso crítico nos grupos;
Mudança de percepção/autonomia dos jovens no processo decisório;
Qualidade das perguntas e sugestões enviadas espontaneamente.
Ferramentas de coleta
Formulários online antes e depois das ações para análise comparativa;
Monitoramento em redes sociais, comentários, enquetes, menções espontâneas;
Rodas de conversa pós-campanha, grupos de escuta digital via WhatsApp ou Telegram.
No artigo sobre estratégias para mandatos e campanhas, detalho como alinhar objetivos e mensuração para que comunicação institucional e política caminhem juntas.
Estratégias de engajamento contínuo
Tenho convicção de que campanhas de educação política para jovens precisam ser parte de uma estratégia de mobilização permanente, não apenas ações pontuais ligadas a eleições ou datas cívicas.
Sugiro pensar em trilhas de contato contínuo: newsletters, grupos online, embaixadores juvenis dentro das entidades, ciclos regulares de debates e oficinas, produção periódica de conteúdos colaborativos.
Aliás, é comum que o engajamento real só apareça após alguns meses de trabalho constante e aprimoramento das abordagens. É uma construção, não uma “viralização” imediata.
Como a Communicare pode potencializar sua campanha de educação política
Na Communicare, aprendi que o segredo está em ouvir, experimentar, adaptar e, principalmente, respeitar a autenticidade do jovem brasileiro. A confiança não se compra: é cultivada ao longo da jornada. Nossos serviços de assessoria, produção de conteúdo, estratégias digitais e mobilização institucional já impulsionaram dezenas de projetos em sindicatos, conselhos, associações e campanhas eleitorais.
Se você faz parte de uma equipe de mandato, coletivo, conselho, sindicato, centro acadêmico ou associação, convido você a conhecer nossas soluções em mobilização e engajamento juvenil. Estamos prontos para ouvir seu desafio, planejar juntos e transformar ideias em resultados concretos.
Quer conversar sobre sua realidade e construir uma estratégia sob medida? Me procure. A equipe da Communicare está à disposição para fazer crescer sua campanha e o protagonismo político dos jovens.
Preencha o formulário no site da Communicare e receba um diagnóstico consultivo, seu projeto pode ser o próximo case de sucesso da juventude engajada no Brasil.
Conclusão
Educar politicamente o público jovem é o caminho mais legítimo para consolidar a democracia, fortalecer instituições e impulsionar mudanças sociais reais. Se desafio existe, é porque há espaço para criação, inovação e escuta verdadeira. Na minha trajetória, quanto mais construo junto, melhor os resultados. Por isso, sempre recomendo: comece pelo diagnóstico, segmente públicos, use múltiplos canais, privilegie a cocriação, mensure impactos e mantenha o diálogo aberto e contínuo.
Visite o site da Communicare, preencha o formulário e conheça de perto nossos cases e soluções para transformar jovens em protagonistas do futuro político, institucional e eleitoral do país.
Perguntas frequentes sobre campanhas de educação política para o público jovem
O que é educação política para jovens?
Educação política para jovens é um conjunto de ações, conteúdos e vivências que visam desenvolver o senso crítico, o entendimento sobre democracia, direitos e deveres e o estímulo à participação ativa na vida pública. Não se trata apenas de transmitir informações, mas de criar espaços para que a juventude experimente, questione e dialogue sobre o papel da política em suas vidas, usando linguagem acessível e formatos interativos.
Como engajar jovens em campanhas políticas?
Engajar jovens exige comunicação direta, linguagem contemporânea e identificação com causas próximas à vivência deste público. O protagonismo, a possibilidade de cocriar conteúdos, o uso de dinâmicas lúdicas/participativas e o engajamento contínuo, tanto nos meios digitais quanto presenciais, são caminhos certeiros. É fundamental promover escuta ativa, oportunidades reais de participação e ações com resultados concretos para o cotidiano do jovem.
Quais são os melhores canais para divulgar?
Os melhores canais para campanhas de educação política com jovens normalmente envolvem redes sociais de maior uso no Brasil (Instagram, TikTok, WhatsApp, YouTube), podcasts, transmissões ao vivo, eventos presenciais e parcerias com coletivos, movimentos, escolas e universidades. É preciso avaliar o contexto e adaptar o mix de canais, priorizando sempre onde o jovem “já está”.
Como medir o impacto das campanhas?
O impacto pode ser medido por métricas quantitativas (alcance, engajamento digital, número de participantes em ações presenciais, novas filiações, produção de conteúdo colaborativo) e qualitativas (mudanças de percepção, evolução crítica, debates gerados, feedbacks espontâneos). Combinar formulários, enquetes, análises de redes sociais e rodas de escuta melhora a capacidade de avaliação das campanhas.
Vale a pena investir em redes sociais?
Sim, investir em redes sociais é fundamental porque nelas está a maior parte do público jovem, especialmente em campanhas políticas e educativas. Porém, deve-se diversificar formatos, promover interação genuína e evitar uso meramente institucional. Por mais tecnológicas que sejam, redes sociais funcionam melhor quando estimulam a produção participativa e o protagonismo do jovem no processo comunicativo.




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